Uma nova proposta para classificar as massas anexiais com base nos achados ultrassonográficos
Fernando Amor, MD, Humberto Vaccaro, MD, Juan Luis Alcázar, MD, Mauricio Leon, MD, José Manuel Craig, MD, Jaime Martinez, MD
A proposta deste estudo foi descrever um novo sistema de laudo chamado Laudo de Imagem Ginecológica e Sistema de Dados (GI-RADS) para relatar achados em massas anexiais baseados na ultrassonografia transvaginal.

Figura 1. USG transvaginal de uma massa anexial diagnosticada como um cisto hemorrágico e classificada como GI-RADS 2. A paciente foi seguida e o cisto se resolveu espontaneamente após 2 meses.
Um total de 171 mulheres (idade média de 39 anos; variando de 16 a 77 anos) suspeitas de terem uma massa anexial foram avaliadas pela ultrassonografia transvaginal antes do tratamento. Análise de reconhecimento do padrãoo e a localização do fluxo sanguíneo pelo Doppler colorido foram usados para determinar o diagnóstico presuntivo.

Figura 2. USG transvaginal de uma massa anexial diagnosticada como um cisto endometriótico e classificada como GI-RADS 3. A cirurgia foi realizada e o diagnóstico foi confirmado na análise histopatológica.
Assim, o GI-RADS foi usado, com as classificações seguintes:
- GI-RADS 1, definitivamente benigno. Ovários normais e nenhuma massa anexial visualizada;
- GI-RADS 2, muito provavelmente benigno. Esta categoria inclui lesões anexiais que parecem ser de origem funcional, tais como folículos, corpos lúteos e cistos hemorrágicos (figura 1);
- • GI-RADS 3, provavelmente benigno. Esta categoria inclui as lesões anexiais não neoplásicas que parecem ser benignas, tais como endometrioma, teratoma, cistos simples, hidrossalpinge, cisto paraovariano, pseudocisto peritoneal, mioma pediculado e achados sugestivos de doença inflamatória pélvica (figura 2 a 4);
- • GI-RADS 4, provavelmente maligno. Esta categoria inclui lesões anexiais que poderiam ser incluídas nos grupos acima, com 1 ou 2 sinais sugestivos de malignidade (p.e., projeções papilíferas espessas, septações espessas, áreas sólidas, vascularização central, ascite e RI baixo <>
- GI-RADS 5, muito provavelmente maligno. Esta categoria inclui massas anexiais com 3 ou mais achados sugestivos de malignidade listados para GI-RADS4.
Pacientes com tumores GI-RADS 1 e 2 foram tratados expectantemente.

Figura 3. USG transvaginal de uma massa anexial diagnosticada como hidrossalpinge e classificada como GI-RADS 3. A cirurgia foi realizada e o diagnóstico foi confirmado na análise histopatológica.
Todos os tumores GI-RADS 3, 4 e 5 foram removidos cirurgicamente e um diagnóstico histológico definitivo foi obtido. A classificação GI-RADS foi comparada com o diagnóstico histológico final. Um total de 187 massas foram avaliadas.

Figura 4. USG transvaginal de uma massa anexial diagnosticada como salpingite aguda num quadro de doença inflamatória pélvica e classificado como GI-RADS 3. A cirurgia foi realizada e o diagnóstico foi confirmado na análise histopatológica.
A taxa de prevalência de tumores malignos foi de 13.4%. Todas as taxas de classificação GI-RADS foram as seguintes: GI-RADS 1, 4 casos (2.1%); GI-RADS 2, 52 casos (27.8%); GI-RADS 3, 90 casos (48.1%); GI-RADS 4, 13 casos (7%) e GI-RADS 5, 28 casos (15%).

Figura 5. USG transvaginal de uma massa anexial mostrando uma área sólida que surge da superfície das paredes internas. Não foi identificado fluxo sanguíneo dentro desta área sólida e a massa foi classificada como GI-RADS 4. A cirurgia foi realizada e a análise histopatológica revelou cistoadenofibroma.
A sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo e acurácia foram 92%, 97%, 85%, 99% e 96%, respectivamente.

Figura 6. USG transvaginal de uma massa anexial mostrando uma área sólida com contornos irregulares e fluxo sanguíneo interno. A massa foi classificada como GI-RADS 5 . A cirurgia foi realizada e a análise histopatológica revelou carcinoma seroso de ovário primário.
O propósito do sistema de laudo proposto mostrou boa performance diagnóstica. É simples e pode facilitar a comunicação entre ultrassonografistas e clínicos.
Tabela 1. Diagnóstico final de todas as massas
Diagnóstico | N | % |
Cisto funcional | 18 | 9.6 |
Cisto paraovariano | 2 | 1.1 |
Cisto hemorrágico | 29 | 15.5 |
Hidrossalpinge | 7 | 3.7 |
Doença inflamatória pélvica | 10 | 5.3 |
Cistoadenoma | 27 | 14.7 |
Endometrioma | 37 | 20.2 |
Teratoma | 18 | 9.6 |
Leiomioma | 5 | 2.7 |
Fibroma de ovário | 2 | 1.1 |
Struma ovarii | 1 | 0.5 |
Abscesso periapendicular | 2 | 1.1 |
Tumor com baixo potencial de malignidade | 5 | 2.7 |
Carcinoma de ovário primário | 19 | 10.2 |
Carcinoma metastático | 1 | 0.5 |
Total | 183 | 100 |
Tabela 2. Laudo de imagem ginecológica e classificação do sistema de dados de acordo com o diagnóstico final específico
GI-RADS | ||||||
Diagnóstico final | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | Total |
Ovários normais | 4 | 4 | ||||
Cisto funcional | 18 | 18 | ||||
Cisto paraovariano | 2 | 2 | ||||
Cisto hemorrágico | 29 | 29 | ||||
Hidrossalpinge | 7 | 7 | ||||
Doença inflamatória pélvica | 10 | 10 | ||||
Cistoadenoma | 3 | 16 | 7 | 1 | 27 | |
Endometrioma | 2 | 30 | 3 | 2 | 37 | |
Teratoma | 18 | 18 | ||||
Leiomioma | 4 | 1 | 5 | |||
Fibroma de ovário | 1 | 1 | 2 | |||
Struma ovarii | 1 | 1 | ||||
Abscesso periapendicular | 2 | 2 | ||||
Tumor com baixo potencial de malignidade | 1 | 4 | 5 | |||
Carcinoma primário de ovário | 1 | 18 | 19 | |||
Carcinoma metastático | 1 | 1 | ||||
Total | 4 | 52 | 90 | 13 | 28 | 187 |
Tabela 3. Performance diagnóstica do sistema GI-RADS
GI-RADS | Benigno | Maligno |
1 – 4 | 157 | 2 |
5 | 5 | 23| |
Sensibilidade, 92% (95% de intervalo de confiança, 75% - 98%);
Especificidade, 97% (93% - 99%);
Valor preditivo positivo, 85%;
Valor preditivo negativo, 99%;
Razão de probabilidade positiva, 29.8 (12.5 – 71.2);
Razão de probabilidade negativa, 0.08 (0.02 – 0.31).
Tabela 4. Características dos casos com achados falso-positivos
Idade da paciente, anos | GI-RADS | Volume tumor, cm³ | Diagnóstico final |
44 | 5 | 115 | Endometrioma |
44 | 5 | 898 | Endometrioma |
66 | 5 | 55 | Struma ovarii |
44 | 5 | 1011 | Fibroma |
35 | 5 | 84 | Cistoadenofibroma |